Eu tenho um sério problema: as coisas devem ser do meu jeito. Ok. Eu sei que você deve estar pensando que eu sou muito infeliz por isso, afinal, na maioria das vezes as coisas saem o contrário do que planejamos. E você está certo. Em partes.
Se eu saio para tomar sorvete a sorveteria não pode estar fechada. Se estiver, passo raiva mas não volto para casa sem tomar o bendito sorvete. Nem que seja um picolé da Kibom. Eu vou comprar. Eu vou ter essa sensação. Eu vou até a Araújo 24h. E tomo o tal sorvete. Porque EU sou assim.
Existem coisas que não dá para evitar, tipo: furar na avaliação da academia. Putz! E para remarcar? É sempre aquela confusão de horários (que a gente nunca pode) sem contar o pagamento da nova taxa devido ao descumprimento da primeira. Minha aflição começa bem aí. Tudo bem, eu respiro fundo e volto outro dia.
Desde 2009, quando saí do ensino médio, estudei nos melhores cursinhos pré-vestibular a fim de tentar a grande prova para Medicina. Desisti três anos depois. Quando tardiamente descobri que havia perdido a minha falta de jeito com a vida. A minha inspiração. E a minha vontade de fazer algo de bom comigo mesma. Eu apenas ia. Sentava naquela cadeira dura, refrigerada por um ar condicionado Alasca e anotava toda aquela ladainha sobre Biologia, Química e suas vertentes.
Eu não queria fazer aquilo. Eu não queria estudar tanto para cuidar de alguém debilitado, infectado ou doente por qualquer motivo. Eu não queria fazer plásticas. Eu não queria curar feridas. Ser médica sem fronteiras. Ou mesmo usar um jaleco - tão feio - e branco. Eu não queria e não fiz.
Eu não queria e não fiz o curso que meus pais escolheram para mim. Eu não queria e não fiz a carreira clean e homogênea que minha avó sempre rezava ao pé do santo (com a minha foto embaixo). Eu não queria e não fiz mais um ano de cursinho para enfim - de uma vez por todas - chutar o balde de uma só vez e dar uma banana para quem ficou para trás.
Graças a Deus eu não sou médica. Graças a mim eu nasci com a palavra na boca, o gesto no ato, a pressa no tato e a glória no fato.
Foram três anos mas saiu do meu jeito. Desfiz a matrícula, guardei as apostilas na estante mais alta do armário, conversei com meus pais e me peguei pensando ''e agora?''.
Todo recomeço tem que ser do jeito que sonhamos.
Essa era a única certeza que eu tinha. Eu sabia que deveria ser criativo, lúdico, interativo, inspirador, que cheirasse novidade e que não me enfiasse dentro de rótulos. Uniformes. Cartões com horários e vale transporte. Esse era o meu emprego. Essa era a vida que eu queria. Essa é a vida que ninguém sonhou para mim.
Pareço sonhadora? Eu fui.
Pareço louca? Ingênua? Infantil? Mimada?
Pode ser.
Mas saiu tudo conforme a minha música. O meu espírito de liderança. E a minha forma de ver o mundo foi quem conduziu a minha ousadia. Minto. Não acho ousado a gente querer ser tudo o que, na verdade, já nascemos sendo.
Eu tenho sorte de dar a cara a tapa e só apanhar de mim mesma.
Eu tenho sorte de acreditar em sonhos. Eu tenho um sério problema. Nenhum médico do mundo vai poder tratá-lo. Ou ameniza-lo. Eu nasci assim: livre para ser quantas Helenas eu quiser.
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